NICHOS URBANOS - FRUTOS DA LIGAÇÃO
Observar, imaginar, fabular e produzir pausas para registrar as cenas da edificações arquitetônicas, a mobilidade urbana, o ócio cotidiano, o caminhar sobre as faixas de segurança, os acontecimentos diários nas paradas do ônibus, as placas de trânsito, os postes de luz, os cachorros desabrigados e os orelhões de telefones públicos, em grande parte grafitados e obsoletos, que compõem a paisagem urbana, é para Michele Martines matéria prima para as suas criações. Em suas composições a rua ganha novos sentidos, significados e modos de ver e pensar a cidade, a partir de texturas, cores e pinceladas.
Os orelhões para a artista ganham destaque em suas pinturas, pois passam a ser objeto recorrente em suas produções bidimensionais. E que, consequentemente, atravessam as dimensões de altura e largura das suas telas, infringindo o próprio ambiente urbano, como planta/escultura. São orelhões telefônicos, com formatos arredondados, que perdem sua originalidade e finalidade, voltam a integrar a paisagem urbana como objeto de arte. suporte de pintura, a artista compõe um canteiro de plantação de frutas cítricas na cidade de Montenegro/RS.
Marcados pelas manchas suaves do pincel, gomos,cascas, frutos cortados ao meio, laranjas, bergamotas e limões, são produzidos pelas mãos da artista, explorando as variações de cores cítricas. Treze Orelhões constituem a sua Frutos da Ligação, que cria novas visualidades e narrativas da identidade visual do município de Montenegro/RS. Entre os seus nichos urbanos, sua exposição ganha novas janelas, a partir de pinturas de artistas convidados, que criam e dão novos olhares para o Cais do Porto das Laranjeiras, local de origem na construção do município, núcleo da identidade local.
Somado a isso, o entorno do prédio onde está localizada a galeria também é tema para a pintura da artista. Michele Martines, assim, convida o público, a partir de suas produções pictóricas, a tecer novas percepções, e modos de ver, pensar, sentir, observar a cidade. É nas suas telas, nas marcas das pinceladas e nas maneiras como a artista vê a cidade,que fundem-se história, identidade, cultura e memórias da cidade aos olhos do público.
Lucas Pacheco Brum
Doutorando em Arte Educação pela UFPel
Mestre em Arte Contemporânea pela UnB
Curador da Exposição